Um dos campos nos quais a universidade mais tem se debruçado é a aplicabilidade de novos conceitos, gestados e desenvolvidos pelos pesquisadores, na indústria nacional. Trata-se de uma questão histórica, mas que tem sido cada vez mais evocada a partir do ponto em que vivemos uma evolução tecnológica em escala acelerada.

O tema preocupa a comunidade acadêmica e o setor industrial, e estará em debate na segunda edição do Engineering Education for the Future (EEF-2024), que acontece entre os dias 16 e 18 de maio no ITA – campus DCTA, em São José dos Campos (SP).

Saber investir com inteligência na inovação para que as novas tendências sejam de fato soluções que possam atender a uma indústria cada vez mais moderna e competitiva é uma meta palpável, mas que exige dedicação e talento.

Nesta entrevista, conversamos com o Professor Doutor Mauri Aparecido de Oliveira, coordenador-geral do EEF-2024. Ele, que atua como chefe da Divisão de Ciências Fundamentais no ITA, falou sobre as conexões entre a indústria e a academia e como essa sinergia é importante, não só para o desenvolvimento, mas para a aplicação prática de novas tecnologias.

Como o EEF-2024 pretende abordar a questão da integração entre academia e indústria, à luz do que foi discutido sobre a importância dessa colaboração para gerar resultados inovadores?
Mauri Aparecido de Oliveira
Para ter-se inovação é fundamental a cooperação para integrar tecnologias que são desenvolvidas tanto por empresas, como por institutos de pesquisa e universidades. Isso é feito a partir de mão de obra especializada. Dessa forma, nos mercados emergentes e naqueles economicamente mais avançados e consolidados, é essencial a cooperação com o setor acadêmico. O EEF-2024 será o ambiente que vai congregar representantes de governo, da sociedade, empresas e a academia para discutir a formação técnica e humana de engenheiros que lideram esse processo de inovação.

Considerando a discussão sobre as tendências e desafios futuros para o ensino da Engenharia, quais são os principais objetivos que o EEF-2024 busca alcançar nesta edição?
MauriÉ muito claro o rápido progresso em vários domínios científicos e tecnológicos. Assim, é necessário que a educação e a formação nas disciplinas de Engenharia evoluam juntas com as novas exigências do mercado de trabalho, da sociedade e das atividades que realizarão na Força Aérea Brasileira (FAB). Esta evolução enfrenta desafios como a elaboração de métodos de avaliação eficazes, a promoção do crescimento profissional e instrucional dos docentes de Engenharia e a disponibilidade de infraestrutura e recursos adequados.
No EEF-2024, o objetivo principal é a participação dos docentes em discussões que gerem ações para formar engenheiros que possuam um conjunto abrangente de habilidades, incluindo conhecimentos técnico, profissional e, também, habilidades interpessoais para acompanhar as tendências que culminam em avanços abruptos.

Como o EEF-2024 planeja incentivar a cooperação entre pesquisa acadêmica e indústria tecnológica para promover a inovação de forma mais eficaz?
MauriNo EEF-2024, a cooperação entre pesquisa acadêmica e a indústria será promovida e expandida nas Vitrines Tecnológicas, onde empresas farão apresentações dos desafios que enfrentam e como têm lidado com a contratação, treinamento e retenção de engenheiros. Também teremos a Mostra ITA 2050, com estandes para empresas de base tecnológica, Institutos de Pesquisa do DCTA e Laboratórios de Pesquisa do ITA. Ou seja, um ambiente estimulante para propiciar parcerias e intercâmbio de conhecimento.

Sobre a necessidade de adaptação dos sistemas educacionais às mudanças tecnológicas, como o EEF-2024 está abordando essa questão em sua programação?
Mauri
Não é somente a mudança tecnológica que impacta os sistemas educacionais. Precisamos também considerar mudanças nas relações mundiais, ambientais, geopolíticas, culturais e legislativas, por exemplo. Todas impactam nos campos da Engenharia e da ciência. Para viabilizar a adaptação adequada, e que contemple as perspectivas dos jovens que escolhem a carreira de Engenharia, bem como dos futuros empregadores, no EEF-2024 teremos o Fórum de Educação em Engenharia que tem como objetivo central promover debates sobre os desafios presentes e futuros na inovação dos métodos de ensino e aprendizagem nesse ramo fundamental de desenvolvimento de qualquer sociedade.

Quanto às habilidades comportamentais e à formação integral dos engenheiros, como o EEF-2024 está incorporando a integração entre disciplinas técnicas e humanas em suas atividades?
MauriO ITA tem tradição nessa integração. A coordenação do Fórum de Educação em Engenharia do EEF-2024 é do Professor Doutor Delmo Mattos, do Departamento de Humanidades da Divisão de Ciências Fundamentais. A Mostra 2050 ITA é coordenada pela Professora Doutora Sueli Custódio, também do Departamento de Humanidades. Foram convidados professores de humanidades do ITA que vão apresentar práticas de Engenharia não convencionais e que buscam algum grau de empoderamento de grupos vulnerabilizados. Elas são chamadas de “engenharias engajadas”. Nas Mesas Redondas do Fórum, esse será um tópico bastante explorado.

Em relação à qualidade da formação dos engenheiros, como o EEF-2024 planeja contribuir para elevar os padrões de qualidade na formação dos profissionais de engenharia?
MauriTrata-se de um processo, em que o EEF é concebido como um instrumento de apoio para aglutinar os responsáveis por planejar, organizar, formar, treinar, empregar e avaliar a formação dos engenheiros. Mas não é só isso, para que padrões elevados de qualidade sejam alcançados é necessário que tenhamos profissionais que sejam apaixonados pelo que fazem, apaixonados pela Engenharia. E sabemos que esse interesse, muitas vezes desperta em fases bem iniciais na idade escolar. Por isso, nessa edição do EEF-2024, receberemos crianças e adolescentes, que poderão ter contato com os engenheiros e suas criações. E isso vai ser muito divertido.

Levando em conta a importância da inovação para enfrentar as demandas tecnológicas em constante mudança, qual é a estratégia do EEF-2024 para estimular a cultura de inovação entre os participantes do evento e além dele?
Mauri
De maneira bem simples, podemos considerar que a tecnologia se refere à organização de pessoas e artefatos para algum objetivo e que a inovação descreve algumas mudanças úteis na tecnologia. A implantação e a aplicação desses conceitos para a sociedade moderna é o que mais tem diferenciado certos setores da economia. No EEF-2024 teremos a oportunidade de ter contato com líderes de desenvolvimento e o esforço que empregam em assumir posições únicas nas áreas que atuam, levando as respectivas empresas à cultura de excelência e eficiência operacional que são difíceis de serem alcançadas por concorrentes.